Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos?


Qual a filosofia que move a mídia ao selecionar comida como essas para ser servida ao povo?
A resposta é a tradicional: “A missão da imprensa é informar“. Pensa-se que, ao informar, a imprensa educa. Falso.
Há milhares de coisas acontecendo e seria impossível informar tudo. É preciso escolher. As escolhas que a imprensa faz revelam o que ela pensa do gosto dos seus leitores.
Imagine comigo caro leitor…
Se o filósofo alemão Ludwig Feuerbach estava certo ao afirmar que “somos o que comemos“, será forçoso concluir que, ao servir refeições de notícias ao povo os jornais estão realizando uma magia perversa sobre os seus leitores: depois de comer eles serão iguais àquilo que leram.
O prazer da leitura, para mim, está não naquilo que leio mas naquilo que faço com aquilo que leio. Ler, só ler, é parar de pensar. É pensar os pensamentos de outros. E quem fica o tempo todo pensando o pensamento de outros acaba por desaprender a arte de pensar seus próprios pensamentos: outra lição de Schopenhauer.
Pensar não é ter as informações. Pensar é o que se faz com as informações. É dançar com o pensamento, apoiando os pés no texto lido: é isso que me dá prazer. Suspeito que a leitura meticulosa e detalhada das informações tenha, freqüentemente, a função de tornar desnecessário o pensamento. Pensar os próprios pensamentos pode ser dolorido. Quem não sabe dançar corre sempre o perigo de escorregar e cair… Assim, ao se entupir de notícias – como o comilão grosseiro que se entope de comida – o leitor se livra do trabalho de pensar. e passa a pensar da forma que os outros pensam.
Certa vez Arnaldo Jabor deu um grito: “Os órgãos de imprensa devem ter um papel transformador na sociedade…“
Dizendo do meu jeito: os órgãos de imprensa têm de contribuir para a educação do povo. Mas educar não é informar. Educar é ensinar a pensar. Os jornais ensinam a pensar?
Repito a pergunta: Será que a leitura dos jornais nos torna estúpidos? 

-Texto baseado numa crônica de Rubem Alves-

Nenhum comentário:

Postar um comentário